Não queria ter aberto a porta. Mas me vi obrigada. Há poucos minutos havia dito que preferia não tomar sorvete, ou sair, e continuei em frente ao computador. Vivenciei algumas mazelas diárias, como é de costume em alguém que tem remorsos por alguma situação mal resolvida. Mas estava certa de que só seria uma boa companhia para duas pessoas escolhidas.
Então continuei naquele marasmo habitual de uma tarde nublada e quente de domingo. A ansiedade por sair de casa fez com que vestisse a calça e uma sandália, mas como a carona ainda ia demorar, continuei com a camiseta velha e rasgada, que se transformou em pijama. E ouço o som de uma buzina. "Mas a carona não avisou que ia sair..." Fui até a janela e sem acreditar, vi que ele estava lá.
Só consegui pensar que teria de trocar de blusa e realmente sair da minha bolha para atender a porta. Mas eu não queria, eu não estava preparada. Fui, abri a porta. Situação constrangedora. Abri o portão, dei um oi sem graça. Estava sem ação, sem palavras. Nossos corpos se encontraram em um abraço, em que pude sentir o perfume. O mesmo que uma vez me fez me perder, abandonar meu corpo.
Dessa vez me perdi por um instante naquele perfume. E no momento seguinte já não estava acreditando naquela situação. Nós dois ali, lado a lado, e eu me sentindo uma idiota. Aquela situação não precisava estar na história de ninguém. Trocamos algumas palavras, e quando já não havia mais o que dizer, ou fazer, ele se foi. Entrou no carro, enquanto eu dei as costas e me tranquei aliviada na minha redoma.
Estava aliviada por aquela situação, que parecia não ter fim, ter terminado, mas o reflexo dela a partir do momento em que fechei a porta me deixou totalmente abalada. Pela segunda vez pensei em quanto poderia ter magoado os seus sentimentos, já que isso é um praxe na nossa história. Sempre acabo metendo os pés pelas mãos. E dessa vez foi semelhante, com a diferença que não tentei remediar.
Existem pessoas especiais que surgem, de repente. E existem pessoas que não estão preparadas para viver algo especial. Ainda me encaixo nessa segunda frase. E para viver momentos especiais, tenho que deixar que eles venham a conta gotas. Por enquanto está sendo assim. E é o que eu posso e quero ter.
Nenhum comentário:
Postar um comentário