terça-feira, dezembro 20, 2005

a menina e a lagarta

Sentada no jardim da casa amarela com telhado vermelho cor de terra, aquela menina de vestido de babados acompanhava todos os dias a lagarta. Quando o vento batia nas madeixas negras, fazendo com que os fios passassem pelo rosto, ela cuidadosamente afastava o cabelo dos olhos e das bochechas rosadas e continuava a analisar os passos da lagarta. A lagarta passava por cada nervura das folhas da mangueira, e em cada uma delas retirava uma porção de alimento. As folhas que conheciam o andar da lagarta nunca mais eram as mesmas, ficavam sem um pedaço, o pedaço que havia levado. Mas a lagarta, depois que passava por cada folha, também não era mais a mesma, pois tinha um pouco da energia de cada uma.

E foi assim no primeiro, segundo e terceiro dia. Naquelas manhãs em que calmamente a menina do vestido de babados, ora rosa, ora azul, e até mesmo verde, chegava ao jardim e tirava as sandálias para sentar perto da mangueira. Ao mesmo tempo que estudava o percurso da pequena lagarta amarela de perninhas e antenas pretas, cuidava para que o jardineiro não acabasse com o que ela poderia se tornar: uma bela e esvoaçante borboleta. No quarto dia, depois que largou as sandálias na calçadinha e correu na grama em direção à mangueira, a garota do cabelo que voa com o vento não avistou a lagartinha. Era como se a cena tivesse parado no tempo e no espaço. Onde estaria a lagarta
?